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segunda-feira, 4 de junho de 2007

O Grão da Imagem de Vera Chaves Barcellos



Visitei hoje a exposição de Vera Chaves Barcellos no Santander Cultural (Praça da Alfândega, ao lado do MARGS - muitas pessoas não sabem onde fica nem o MARGS, nem o Santander, mas esse já é assunto para outra pst).

Gostei muito do que vi, embora isso não queira dizer absolutamente nada. A mostra é uma retrospectiva de 40 anos da artista que se divide entre Barcelona e Viamão, futura sede de sua fundação. A mostra mobilizou-me em duas direções. Por um lado, aprendi muito sobre a artista e sua contribuição nada pequena à arte contemporânea. A curadoria bastante didática, propicia um panorama da obra de Vera Chaves, intercalado com momentos precisos da trajetória artística local, a exemplo do Espaço N.O. Na obra da artista o ponto principal é o questionamento do real, transformado e reconfigurado em múltiplas representações. Como pesquisadora da fotografia histórica, chamou-me a atenção o que Vera faz com aquela que um dia foi pensada (e ainda o é!) como "espelho da realidade". Explica, por exemplo, como transforma uma única fotografia precária tirada de uma imagem de televisão na série "O nadador". A repetição do referente e sua recriação parecem fazer gritar a impossibilidade da realidade ali representada. O vídeo, dirigido por Ana Luiza Azevedo da Casa de Cinema, é um complemento estupendo à mostra. Sem ele, muita coisa se perderia do pensar e fazer artístico de Vera Chaves Barcellos.
Mas não pensem que visitei a mostra apenas com a razão. Deixei-me também embriagar pelas imagens e ser por elas conduzida. Mergulhei nas águas junto com aquele nadador e pude perceber o quanto os nossos pés revelam de nós mesmas. Não à toa lembrei da frase do personagem Haniball Lecter, interpretado por Anthony Hoopkins, para a detetive interpretada por Jodie Foster, em O Silêncio dos Inocentes: seus sapatos revelam sua origem humilde, ou algo nesse sentido. Acompanhei a hecatombe dos manequins de Dusseldorf; despidos acabavam mostrando um pouco da nossa nudez e da nossa artificialidade diante da moda do efêmero das vitrines.

Feliz ou infelizmente, quem trabalha com museu, não visita nenhuma exposição sem observar os mínimos detalhes. Causou-me, assim, alegria ver a presença de duas turmas de escolares sendo conduzidas pelos mediadores. Tampouco passara despercebido o ônibus estacionado na rua Siqueira Campos e que os trouxera, provavelmente, de um bairro distante do centro da cidade. Talvez, graças a projetos como esse mais pessoas saibam onde fica o Margs, o Santander, a Praça da Alfândega e (não estou brincando) o Centro Histórico de Porto Alegre, para muitos ainda chamado de "a cidade".

Um comentário:

Zita Possamai disse...

Acabei esquecendo. Quem quiser saber mais sobre essa mostra e a programação paralela é só acessar http://www.santandercultural.com.br/programacao/artesvisuais.asp