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quarta-feira, 7 de maio de 2014

Henri Cartier-Bresson em exposição


O Centro Georges Pompidou em Paris apresenta, de fevereiro a junho de 2014, a exposição Henri Cartier-Bresson que marca uma década do desaparecimento desse grande fotógrafo. A mostra  inicia por uma longa cronologia biográfica do artista, possível de ser lida enquanto se aguarda na longa fila de entrada. Composta por diversas salas, a exposição segue um percurso também cronológico da vida e obra de Cartier-Bresson, explorando com detalhes momentos importantes da sua vida profissional, cuja formação foi iniciada na Academia do pintor Andre Lothe. Lá ele aprendeu as regras clássicas da geometria e da composição que vão marcar suas imagens ao longo de sua carreira. Admirador das fotografias da velha Paris de Eugene Atge que ele conhecera através do casal norte-americano Crosby, começa a despertar para a fotografia. Para abordar esse momento da vida de Cartier-Bresson, a mostra expõe alguns óleos dobre tela, colagens e fotografias nitidamente inspiradas no olhar de Atge. 




A exposição é composta sobretudo por imagens fotográficas de Henri Cartier-Bresson e a cada sala um pequeno texto fornece informações sobre o momento abordado. Há alguns anos recorro aos áudio-guias no museus. Para os museus de arte tradicionais são ótima solução para aprofundar aspectos de determinadas obras sem corromper a expografia com textos nas paredes, inimagináveis em determinados espaços, sobretudo de arquitetura suntuosa. Na mostra de Cartier-Bresson o áudio repete a informação do texto e aprofunda a análise da imagem a que se refere. A visita com áudio, nesse caso, tornou a expo muito mais rica ao proporcionar elementos de análise das imagens, invisíveis ao observador comum. 



Em 1930, Bresson embarcou para  África, onde aplicou as inovações da Nova Visão fotográfica.  Da atração pelo surrealismo, que o fotógrafo afirmou tê-lo marcado profundamente, Cartier-Bresson adota, a partir dos anos 1930, uma atitude  de revolta defendendo o anticolonialismo, os republicanos espanhóis, bem como lutando contra a ascensão do fascismo. Nas imagens dessa década é possível perceber o engajamento social e documental do fotógrafo ao atender diversas encomendas do Partido Comunista. Ainda é possível observar nessa retrospectiva a guinada cinematográfica do fotógrafo e sua preocupação em criar uma narrativa para um público mais amplo. Segundo ele, o cinema não tem relação com a fotografia, pois esta seria uma imagem visual plana, como um desenho, enquanto o cinema seria um discurso. Uma sala com 4 paredes projetavam concomitantemente filmes produzidos entre 1935 e 1945 e um filme sobre a guerra civil espanhola, este exibido numa sala onde o visitante, já cansado no meu caso, poderia sentar-se. 

A narrativa segue abordando a consagração do fotógrafo apresentado no MOMA de Nova Iorque em 1947, a opção pelo fotojornalismo e a fundação da cooperativa Magnum Fotos. Os principais acontecimentos do século XX até os anos 1970 passaram pelas lentes de Henri Cartier-Bresson: os funerais de Gandhi, na Índia; a China nos últimos dias do Kuomintang; a Rússia após a morte de Stálin; Cuba na crise dos misseis; maio de 1968, na França. A exposição ainda permite o contato com inúmeras imagens coloridas, produzidas sob encomenda para muitas revistas. Para Bresson, amante incontestável do preto e branco, a fotografia colorida não passava de uma concessão. A partir dos anos 1970, Henri Cartier-Bresson vai abandonando a agência Magnum e a fotorreportagem. Suas fotografias retomam o olhar contemplativo e poético de suas primeiras imagens. Voltando às origens, retorna ao desenho.

A retrospectiva do centro George Pompidou em parceria com a fundação Henri Cartier-Bresson tem muito do que se espera de uma boa exposição. Sem grandes inovações, apresenta de modo linear e aprofundado a biografia do fotógrafo. Observando suas imagens, o visitante, mesmo que não leia qualquer texto ou escute o áudio-guia, apreende o percurso do artista nos seus aspectos técnico, poético e político, além de conhecer em imagens fotográficas aspectos dos principais acontecimentos do século XX,  a partir da mirada de quem foi considerado "o olho do século".




Algumas das máximas de Henri-Cartier-Bresson:


"O que conta em uma foto é sua plenitude e sua simplicidade."


"As fotos me prendem, não o inverso."


"Eu sou um homem visual.
Eu observo, observo, observo.
É pelos olhos que eu compreendo as coisas."



"É a vida que me interessa e sempre a próxima foto."


Para ver algumas das imagens da exposição, não deixe de entrar aqui:

http://www.centrepompidou.fr/cpv/ressource.action?param.id=FR_R-8c3927ca103e21f93722c4695e4783e&param.idSource=FR_E-8528b4338f3fde2beee8388769730d1