Tive o prazer de visitar a cidade de Pelotas essa semana para participar do II Seminário sobre História do Rio Grande do Sul, promovido pelo Departamento de História da Universidade Federal de Pelotas. Foi uma grata surpresa assisitir, enquanto aguardava o momento de minha palestra, ao Professor Luis Osório sobre sua pesquisa sobre os famosos doces de Pelotas. O pesquisador vasculhou muitas fontes para tentar responder se os doces, hoje tão consagrados na cultura local, teriam sido uma criação recente, uma "tradição inventada", segundo Eric Hobsbawn. Luis Osório encontrou referências bastante recuadas no tempo, como a do visitante francês Saint Hilaire que andou pela região nos idos de 1820, antes até da fundação da cidade em 1832. Uma das informações mais inusitadas trazidas pelo historiador, foi a de que Gilberto Freire, em visita à cidade, conhecera os doces pelotenses e os comparara em qualidade aos doces da sua terra natal, Pernambuco. Os doces do Nordeste, sobre os quais o sociólogo escrevera, eram fabricados com o açúcar refinado produzido nos engenhos de cana. E com qual açúcar se produzia os doces de Pelotas? Não pense que as pelotenses usavam o açúcar mascavo da região de Santo Antonio da Patrulha, corrigiu Luis Osório observação de Athos Damasceno. Não seria possível com aquele fazer doces tão requintados. O açúcar era trazido do Nordeste. Isso mesmo. O professor encontrou documento que mostra um mesmo navio que chegava à Pelotas carregado de açúcar, voltava àquela região carregado de charque, destinado à alimentação da escravaria das lavouras e dos engenhos.
Delícia de pesquisa, não? Mais surpreendente ainda foi saber que o pesquisador desenvolve consultoria junto ao Programa Monumenta da cidade, privilegiando além do patrimônio arquitetônico, aspecto tão significativo da cultura local ou, se quiserem, do patrimônio imaterial. Parabéns ao Professor e ao Monumenta de Pelotas!
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